"Quanto abri a porta, o senhor encontrava-se a chorar. Fiquei parada uns segundos, mas pareceu uma eternidade, e lá me decidi a dizer alguma coisa (que não sabia bem o quê, porque parece que nestas alturas as palavras que uso nunca são as mais correctas). Perguntei porque estava a chorar, se queria conversar. Secou as lágrimas e disse-me “Estou a morrer não estou? Eu sei que sim, e a única coisa que preciso é que me traga um bloco e uma caneta porque preciso de escrever algumas coisas”. Na minha inexperiência, disse que sim, e sai do quarto. Percorri o corredor até à sala, mas fui bem devagar, como se tivesse a digerir aquela frase “estou a morrer não estou? … traga-me um bloco… (...) achei até que não estava preparada para entrar lá, porque estava a fazer um esforço para que nenhuma lágrima saísse, e porque ia ficar bloqueada e não conseguiria dizer nada. Mas a verdade é que tinha nas mãos o que o doente me pedira e tinha de entregar-lhe. Entrei. Estava sentado numa cadeira, com as mãos em cima de uma mesa. Olhei-o por uns quantos segundos, e dirigi-me até ele. “Está aqui, se precisar (…), e não acabei a frase e disse-me que o irmão tinha morrido com a mesma doença, o que o deixava ainda mais ansioso, e que sabia o que ia acontecer, e num baralho de palavras (que provavelmente umas queria ter dito, outras acredito que não), começou novamente a chorar. Fiquei ali encostada à parede, como que a tentar que a minha presença pudesse ajudar em alguma coisa. E continuei ali por um bom tempo…até que ficou mais calmo. (...) mais tarde recebeu a visita de um amigo, e quando entrei no quarto para lhe administrar o antibiótico estava a sorrir. Quando ia sair do quarto disse-me “ são estes momentos que vou levar quando for para algum lugar (…). E sorriu!” Sai do quarto também eu num baralho de sensações! Mas percebi que podemos ajudar com a nossa presença, com o nosso olhar, podemos até não dizer nada, mas estamos ali."
É com estas pequenas coisas, que passo a passo vou completando esta minha construção diária … a aprendizagem com cada situação, a aprendizagem com cada doente =)
Passo a passo estas a tornar-te numa enfermeira de mao cheia. provavelmente das melhores q rondam estes dias. e agora, q comeco a entender o significado de nao ter tempo nem para respirar, dou mt mais valor a cada pequeno momento destes. e cada vez q t leio, alem das saudades do meu tempo de aluna e de saudades tuas, sou invadida por um orgulho em ti q nao consegues imaginar.
ResponderEliminarAdoro-te :)